Por Andrés Di Tella
1.
Em algum momento dos anos 80, eu estava sentado em uma sala meio vazia da Rua Lavalle, de Buenos Aires, vendo desfilar as imagens de um filme argentino, de cujo nome não quero me lembrar. Para lutar contra a típica sensação de frustração e impotência que produzia o cinema argentino daqueles anos, em minha condição de jovem cineasta incipiente, me distraía com um exercício imaginário: pensava como poderia ter contado a mesma história de outro modo, com outros diálogos, outras atuações, outras imagens. Mas não podia, pois era literalmente inimaginável. O cinema nacional havia me limitado. Era como se filmar do modo argentino fosse impossível sem impostação, sem retórica, sem essa gramática de planos e contraplanos de onde se notava cada corte e o peso de todo um aparato deslocando-se tediosamente de um posicionamento de câmera ao próximo. A impressão que causavam esses filmes era a dos roteiros filmados, melhor ou pior, mas muito distantes do potencial expressivo do cinema. Cheguei a conhecer alguns desses diretores, e me surpreendeu sua aparente falta de interesse pelo cinema e o seu total desconhecimento mesmo que seja dos nomes dos mais importantes cineastas da atualidade. Atrás de uma atitude de ter o cinema como uma profissão a mais, davam a impressão que, efetivamente, podiam estar desempenhando qualquer outro ofício. Logo, se podia pensar que a única arte que um cineasta desses anos deveria conhecer era a arte de se dirigir aos órgãos oficiais para conseguir subsídios. Sei que qualquer generalização deste tipo é ridícula e que seria injusto levá-la muito a sério. Mas trato de explicar, de maneira torpe, uma sensação. Quando escuto ou leio que alguém coloca em dúvida a existência de um “Novo Cinema Argentino”, me lembro dessas sensações de espectador de filmes nacionais e não me cabe dúvida alguma de que algo, profundo, mudou.
O artigo completo do cineasta argentino Andrés Di Tella, em tradução inédita de Rafael Urban, pode ser conferido na edição 002 de JULIETTE Revista de Cinema.
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