quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Editorial JULIETTE 002

“A meu ver, não há nenhum motivo de surpresa se o artista moderno for chamado de fora-da-lei. Na verdade, o que diferencia o artista moderno do acadêmico é, simplesmente, o fato de ser ou não inofensivo. E esta última posição, embora incômoda, é a única que me acalma a consciência.”
Rogério Sganzerla

A revista JULIETTE deste mês vem inspirar-se em questões do cinema marginal, apesar deste termo já não ser mais defendido nem mesmo por seus integrantes. A pergunta de nossa personagem sadeana continua sendo, desde a primeira edição com inspiração em Theodor Adorno, sobre os limites da arte, sua ofensividade e violência sobre a realidade ou sobre sua impossibilidade de ação.

A arte é ação ou reflexo de ações, inofensiva ou determinante?

Desta forma, discutir o papel da crítica de arte, tendo no recorte de JULIETTE a arte cinematográfica, torna-se discussão fundamental para definir de que modo o mundo contemporâneo localiza a obra de arte. Como já citamos Adorno, podemos apontar para sua preocupação quanto ao não-perigo da manifestação artística, já embutida no sistema capitalista e, como bom autor de influência marxista, diluído num sistema massificado de compreensão de mundo.

Debater a respeito da arte não trata de delegar a ela uma função, senão cairíamos na cilada “utilitarista”. Porém, perceber seus movimentos e, sobretudo, sua ação como atuação na realidade, deve ser a meta daquele que se lança à atividade crítica.

Nesta edição trazemos algumas destas questões nuançadas em artigo de Eduardo Baggio, referindo-se diretamente à leitura da crítica cinematográfica brasileira, contribuindo para o pensamento acerca da necessidade de transformar em outro tipo de linguagem – a crítica – uma linguagem que, talvez, devesse esgotar-se em si mesma – a arte.

Ainda em reflexão sobre a própria atividade artística apresentamos artigo de Andrés Di Tella, cineasta argentino, em tradução inédita para o português pelo co-editor de JULIETTE Rafael Urban. E, continuando a situar o contexto fílmico da Argentina, a jornalista Mariana Sanchez traz para a discussão o cinema de Lucrecia Martel.

A entrevista deste mês, realizada por esta editora, é com Carlos Reichenbach, representante do cinema de invenção, o também já nomeado cinema marginal. Na conversa poderemos conferir, além de um percurso histórico deste cinema e da própria obra do cineasta, a polêmica acerca das nomenclaturas e da estética cinematográfica brasileira.

Temos ainda, fora do eixo cinematográfico latino, o cineasta Rodrigo Grota comentando a inventividade de Robert Bresson.

Continuemos com a língua solta, aguardando a próxima edição.
Merci.

Josiane Orvatich

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