quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Editorial JULIETTE 003

“As filas (e as rendas) nos dizem que as pessoas estão indo ao cinema – não que estejam se divertindo (...). Eles (da indústria) acham que as rendas são prova de que as pessoas estão satisfeitas com o que recebem, do mesmo modo como os executivos de TV acham que os programas de maior audiência são o que os telespectadores querem, em vez dos que aceitam”.
Pauline Kael, “Por que os filmes são tão ruins”, no livro “Cidadão Kane e outros ensaios”.

JULIETTE em sua quarta edição, a de número 003, traz uma reflexão implícita sobre um dos temas mais pesados, no sentido severo de tantas vezes condenar um filme, e polêmicos acerca da arte/ indústria cinematográfica: a bilheteria.

Em entrevista concedida a nosso editor Rafael Urban, Philippe Barcinski aponta para duas grandes necessidades no cinema brasileiro: planejamento e reconhecimento do valor dado à obra pelo público. Acerca deste segundo tema, temos uma oposição ao nosso entrevistado da edição anterior, Carlos Reichembach, defensor da não necessidade de se avaliar um filme pelo seu resultado de bilheteria. Ao menos não avaliar como obra de arte. E como indústria?

Eis a dicotomia desta “ferramenta” nascida na década de 1890, mistura de arte e técnica, resquício da teoria do autor romântico de todo o século XIX, “gênio dotado de intuição” e mercado financeiro. Como excluir a necessidade de renda de uma arte que, salvo exceções, custa tão caro? Barcinski aponta para uma reflexão de mercado já no projeto inicial, em seu desenvolvimento, desde o roteiro até o local de exibição. Aceita as produções modestas (mal-pagas) e inventivas, mas garante que os profissionais não podem sobreviver somente com estes trabalhos.

A questão permanece lançada com um convite à reflexão ao papel não só da própria obra cinematográfica, mas ao da crítica: como incorporar a recepção da obra a obra?

JULIETTE ainda traz quatro ensaios críticos com estilos e temáticas distintas. Fábio Allon parte da especificidade e delimitação do tema, com caráter de tradição mais acadêmica e especializada, analisando, a partir do espaço criado por Jacques Tati (Tativille), a composição da arquitetura - leiam-se aqui também cenários e direção de arte.

João Krefer, que vem contribuindo periodicamente com JULIETTE, percorrendo a história da vanguarda, nos apresenta novo ensaio e olhar sobre o tema. A partir de Ricciotto Canudo contextualiza mais algumas de suas características, defendo-as como configuradoras do “fazer fílmico”.

Luciana Cristo, em texto singelo, narra sua visita aos antigos lugares (já outros comércios) e salas de cinema de rua curitibanas e faz uma reavaliação da atividade de exibição de filmes nos dias de hoje.

Eduardo Valente, editor da revista eletrônica de cinema CINÉTICA apresenta ensaio sobre o longa-metragem paranaense Mystérios, de Beto Carminatti e Pedro Merege, reconhecendo o ineditismo da narrativa e, talvez por isto mesmo, sua dificuldade em dar-lhe um acabamento final.

Contamos nesta edição com duas novas sessões. Publicações literárias e fotográficas. Está aberto o espaço para textos narrativos ficcionais que dialoguem de alguma maneira com o cinema, seja num personagem ou numa idéia, apostando na criatividade da linguagem escrita. A sessão fotográfica destina-se ao Making Of de produções cinematográficas. Nesta edição a sessão dedicada à ficção tem texto de Luiz Felipe Leprevost e a sessão de fotos dedicada ao Making Of registra o curta-metragem em Super-8 de Murilo Wesolowicz.
Os interessados podem enviar seu material para nosso email de contato, localizado na contracapa da revista.

Continuemos com a língua solta, até a edição de dezembro.

Merci.
Josiane Orvatich

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